Crista do Dragão

Via em solo     250 mt  V

Sergio Tartari, Luis Pita e José Luiz Hartmann  1992

 

A vida seguia tranqüila na casa do Serginho, entre escaladas, banhos de rio,  trabalhos na casa que estava ficando pronta e cuidados na horta de ervilhas e brócolis, comíamos quantidades destes vegetais, frescos e orgânicos, a entrega o Serginho fazia de haul bag em ônibus no CEASA da região incrível disposição enquanto a maioria levava sua produção e camionetes e caminhões.

Em uma tarde de descanso vemos o Pita chegar já botando pilha para alguma escalada, no outro dia saímos a ver alguns blocos no fundo do vale, levávamos sapatilha e magnésio em um dia de céu claro e morno.

Subimos o vale em direção a base das paredes da Crista do Dragão, passamos muitos blocos com bons lances e atingimos a base de um costão tombado, o qual subimos cada um por um lado, no final deste costão um amplo platô  na base de uma parede vertical de uns 100 metros com uma linha bem evidente a principio pelo centro da parede. O visual era muito bonito, com o Roncapedra dominando o vale do Brandir e as montanhas do fundo do vale intocadas, com muitas paredes ainda por se escalar.

Nuvens da tarde começavam a se acumular para além dos cumes da Crista do Dragão, Distraidamente o Sergio começou a subir a parede, se via uma seqüência bonita de agarras que seguia para cima e para a direita, olhei para o Pita e sem falar nada nos metemos também, me aprumei e sai por último atrás de  meus companheiros, seguíamos a alguma distância uns dos outro buscando a linha mais fácil e segura, buscando as marcas de magnésio do Sergio , ganhando altura na parede, todos completamente livres, os lances eram tranqüilos de boa rocha em passadas de IV e V graus e lances delicados de aderência, a sapatilha agarrava bem a rocha acostumada que estava a aquela tipo de escalada.

O gnaise de Salinas possibilita este tipo de escalada, são muitas texturas e linhas de agarras por todos os lados que normalmente se conectam, de alguma forma sempre se pode subir.

 As nuvens se juntaram e uma massa escura passou a cobrir o céu bem sob nossa parede, o Sergio já ia saindo da parte delicada quando os primeiros pingos começaram a cair, pingos grossos e repentinos começaram a pipocar por toda a parede, eu e o Pita ainda tínhamos ainda alguns metros por escalar, as agarras começavam a ficar molhadas e passei a focar ainda mais toda minha concentração em cada passada, as pisadas certeiras, um vacilo e já era play boy, no final da parede uns lances para a direita e o Pita também saia da roubada, os últimos passos fiz com a rocha bem molhada, sai  da parte exposta e me reuni com meus amigos no final da parede, uma chuva torrencial caía sobre nossas cabeças uma euforia tremenda tomou conta de todos, riamos e gritávamos naquela chuva maravilhosa, os raios e trovões davam um tempero a mais naquela loucura. Foi uma escalada incrível inconseqüente e inesquecível um presente para cada um, descemos felizes para a casa do Sergio comer ervilhas com brócolis..