Desfrutando da Liberdade

Inverno 1989

Face Leste em solo

 

Chegando a Salinas na de Sergio conheci o gnaise e suas mil formas de relevos e texturas, gostei da pedra e me adaptei bem a ela, escalamos a via Face Leste do Pico Maior com Sergio e Val e tivemos um dia de muito vento e frio na parede e no cume.

Dias longos na case do Sergio, entre uma obra e outra em sua casa entre boulders e maços de brócolis, nas leiras de ervilha torta observava o Pico Maior e sentia tremenda atração em subir sozinho aquela parede.

Sergio baixava ao Rio resolver coisas, arrumei uma mochila leve com uma corda fina e algum lanche, cadeirinha , magnésio e a sapa..

Bem sedo estava na trilha enquanto digeria o mingau de aveia e as pernas me levavam pelo caminho, ia absorto na subida da montanha com o pensamento leve.

Na base uma grande alegria me tomou, ter umas centenas de metros de rocha perfeita para subir, gnaise da melhor qualidade com muitas formas de relevo, e agarras variadas, boa aderência e geralmente sólidas..Arrumei a corda  a cadeirinha os tênis e um abrigo na mochila e comecei a subir calmamente buscando o melhor caminho pisando firme nas agarras, sentindo a aderência da rocha e procurando seguir a linha da via, na primeira chaminé cheguei rápido e segui subindo, acabou que passei a saída da horizontal e quando percebi já estava alto fora da via com a parede ficando mais vertical e difícil, procurei manter a calma e avaliar a situação, via os grampos da via mais a esquerda e achei arriscado tentar seguir em uma travessia, comecei a descer com todo cuidado, cada movimento milimetricamente controlado, cheguei aliviado ao inicio da travessia.. segui com cuidado buscando as agarras mais usadas e buscando sempre firmeza nas passadas, desfrutava muito a escalada a fluidez de seguir subindo sem parar, o vale foi ficando para baixo e o horizonte cada vez mais amplo, com os outros cumes se destacando nas montanhas vizinhas.

Nos artificiais de grampo usei duas autos e procurei pesar pouco nos grampinhos.. a chegada ao cume foi muito feliz com visual tremendo das montanhas ao redor, lanchei e desfrutei de bom momento satisfeito com a escalada e com a rapidez de se chegar ali em cima assim sozinho,sem falar sem parar,  simplesmente seguindo um caminho a que se propôs a seguir..

Deixei o cume e comecei a descida que até então era feita pela via Silvio Mendes com seu cabo de aço e grampos pés de galinha que agarraram minha corda e por duas vezes tive de subir sinistramente e resgatar, algumas horas de labuta para descer.. as andorinhas e o visual da caixa de fósforo foram de tremenda grandeza.

Acabado o mirabuloso rapel chegando na segurança da crista relaxei de vez e segui descendo a crista com seus cristais brancos de quartzo, descendo  pelo pasto e tantas tranqueiras  de volta a casa do Sergio para um banho no riacho e a comer ervilhas  e pão de lata na fornalha do fogão.

Foi uma escalada maravilha e desfrutei muito cada momento.

Salinas tem uma coisa mágica que te impulsiona a escalar e subir suas paredes, a pedra propicia muitas opções.